“SEREI SEREIA?” trata de questões urgentes: não somente a necessidade de criação de mecanismos de inclusão para os portadores de deficiências, como sobretudo a real aceitação, e saudável conscientização dessas condições, pela sociedade como um todo. Afora as dificuldades estruturais da falta de acessibilidade, e os preconceitos diretos enfrentados pelos portadores de deficiências, eles ainda enfrentam uma imensa série de problemas causados pela simples ignorância de uma sociedade que, ainda que por vezes municiada de “muita boa vontade”, na verdade pouco sabe sobre as reais necessidades dessas pessoas, mais especificamente aqui, as crianças! Existem também o que chamamos de “preconceitos indiretos”, aqueles presentes em supostas “ações que devem ser as corretas” de todos, mas que no fim das contas funcionam, sim, como outros tipos de preconceitos.
O livro de KELY DE CASTRO não somente é preciso no tratamento do tema, como sobretudo é poético: a exemplo do grande clássico do cinema italiano “A VIDA É BELA” (dirigido por Roberto Benigni em 1998), aqui também a criança é protegida de uma realidade mais dura, por meio de um jogo. Se no filme o pai protege o filho dos horrores da vida no campo de concentração nazista por meio da ilusão de que vivem em um jogo, aqui a mãe faz o mesmo, ao “brincar” com a sua filha, fazendo-a crer que é uma linda sereia, o que certamente aumenta a sua confiança e diminui as suas angústias.
Pois acreditando ser uma sereia, a menina Inaê estabelece um olhar sereno para a sua deficiência. Entretanto, é fora dos muros de casa, justamente na escola, que ela enfrenta os maiores desafios, vivendo um cotidiano de preconceitos, ainda que muitas vezes os agentes da discriminação nem estejam percebendo as suas atitudes. As crianças acreditam, por exemplo, que a menina ou é extremamente frágil, ou doente, e por isso têm medo de machucá-la, ao brincarem com ela. Daí evitam construir relações com Inaê. Já os professores e funcionários da escola a tratam com excesso de zelo, impedindo a sua autonomia. E é justamente dessas reações equivocadas das pessoas em volta, que a menina Inaê mais se ressente.
O texto, assim, trata de abrir espaços para uma discussão maior: estará a nossa sociedade verdadeiramente preparada para o convívio com as crianças portadoras de deficiências? Não seriam necessárias mudanças urgentes nos paradigmas dessas relações?
Texto: Kely de Castro.
Adaptação e Direção: Henrique Sitchin.
Assistência de Direção: Aguinaldo Rodrigues.
Elenco: Aguinaldo Rodrigues, João Santiago, Michelle Racaneli, Stefany Araújo e Thaís Rossi.
Operação de Som e Iluminação: Vinícius Prates.
Construção de Cenários e Bonecos: Aguinaldo Rodrigues, João Santiago, Michelle Racaneli, Stefany Araújo, Thaís Rossi, Vinícius Prates e José Valdir Albuquerque.
Orientação para Confecção dos Bonecos: João Araújo.
Trilha Sonora: Yuri de Francco.
Produção Executiva: Adryela Rodrigues